DR. AUGUSTO GLORIA

Por Dr. Paulo Roberto de Gouvêa Medina
Comentários de José Carlos Barroso

Dr. Augusto Glória Ferreira Alves foi o continuador da obra iniciada por seu irmão o Dr. Carlos Ferreira Alves.
Tendo falecido em 1948, aos oitenta e quatro anos de idade, sua imagem permanece ainda bem viva. Para mim é como se estivesse a vê-lo passando pela nossa rua , no seu terno de linho branco, sob o pálio do indefectível guarda-sol da mesma cor... da cor de suas camélias, lindas como jamais vi iguais, que a criada Sebastiana ia levar a nossa casa, nos dias de aniversário. Recordo-me de sua aprazível vivenda e das frutas de seu pomar, do gramofone na sala de jantar...
(Dr.Gloria possuía em sua residência ao lado do Botafogo F.C. um pé de camélias que ele delicadamente ofertava às pessoas aniversariantes e o gramofone da sala de estar do grande médico sanitarista era invenção que todos que por ali passavam ouviam e admiravam como novidade pois poucos a possuíam – segundo sua neta Dona Carmenzinha Dr. Gloria não gostava que chamassem o grande invento de gramofone e sim de máquina de som. O pé de camélias foi retirado de sua residencia e tentaram plantá-lo no jardim da praça Dr. Augusto Glória, logo depois da demolição de sua residência).
Augusto Glória Ferreira Alves, médico como seu irmão, foi Agente Administrativo em São João Nepomuceno por duas vezes, no início do século, quando revelou obstinada preocupação com os problemas da higiene pública, a começar pela limpeza das ruas, onde não admitia encontrar uma casca de banana.
(É sabido que Dr.Glória, indignado ao ver um papel na rua ou uma casca de fruta, batia à porta de uma das casas da rua por onde passava e pedia ao seu morador para fazer o favor de jogar aquele lixo no lixo.)
No ano de 1911 as primeiras providências quanto ao saneamento começam a serem tomadas pelo então Agente Executivo José Henriques Brandão (1908 a 1912). Os primeiros estudos sobre a canalização logo tiveram inicio tendo os engenheiros José Nogueira de Sá e Dr. e Professor Leopoldo Rodrigues Alves ambos da Escola de Engenharia de Ouro Preto, concluído que a captação das águas do córrego dos Medeiros na serra de Descoberto era o caminho mais viável.
Diante dos estudos realizados adquire Zeca Henriques para o município de São João Nepomuceno a Fazenda da Conceição, com cerca de oitenta alqueires no lugar denominado Medeiros e cortada pelo córrego dos Medeiros na vizinha Descoberto, isso aos 04 de dezembro de 1911, por quinze mil réis.
Logo depois assume como Agente Executivo Dr. Augusto Glória Ferreira Alves e as obras de canalização das águas do córrego dos Medeiros têm inicio sob a direção do engenheiro José Barbosa Flores.
Mas foi preciso mais e Dr. Glória adquire parte das Fazendas do Ronca e do Grama isso em 15 de agosto de 1913 e mais tarde em 31 de dezembro de 1942 o então Prefeito Agenor Henriques Soares adquire o restante das fazendas do Grama e Ronca, onde também se encontra a primeira reserva biológica do Estado de Minas Gerais.
Vereador em várias legislaturas, Senador estadual em 1919, Deputado Federal em 1921, Inspetor de Ensino junto a Escola Normal Dona Prudenciana pelo resto de sua vida, desconhecendo até mesmo a aposentadoria compulsória.
(Dr. Augusto Glória certa feita emitiu atestado de saúde para si a fim de se cumprir determinação da Secretaria de Educação. Já velho e ao final de sua vida não atentou para com os tramites legais da época, quanto á emissão de um atestado. É responsável pela construção do mais perfeito complexo de saneamento aos moldes da cidade de Paris, a capital francesa, cabendo-lhe por isto a realização do grande sonho de seu irmão Dr. Carlos Alves. Sabe-se que lhe coube também projetar o antigo prédio onde funcionaria o ensino médio da cidade, ou seja, a Escola Normal Dona Prudenciana.)
É importante que descrevamos o sistema de limpeza dos esgotos implantado em nossa cidade pelo eminente Dr. Augusto Glória: trata-se de vinte e três aparelhos fluxíveis colocados nas cabeceiras dos esgotos com a dupla e importantíssima função de lavar os esgotos e areja-los. Uma enorme caixa d’ água era construída no alto dos morros e em determinados locais a fim de abastecer caçambas que ao encherem de água mecanicamente viravam despejando todo o volume de água nela contido sobre o esgoto com a finalidade de lavá-lo. Hoje Sítio Arqueológico Histórico Dr. Glória.
O grande médico sanitarista nasceu em 1864 e faleceu aos 12 de setembro de 1948 aos 84 anos.
Relata o grande médico são-joanense Dr. Nagib Camilo Ayupe em trabalho seu sobre a História da Medicina em nosso Município isto em 03 de maio de 1980, os últimos dias de Dr. Augusto Glória:
“Atendendo seu chamado fui seu médico assistente durante sua última enfermidade. Visitava-o diariamente, procurando, a par da medicação, levar-lhe o conforto duma palavra amiga. Mas o doente sentia que suas forças desfaleciam e que seu fim estava próximo. Poucos dias antes de seu desenlace, entrando em seu quarto e aproximando-me de seu leito, convidou-me a sentar e foi logo dizendo: Meu filho! Muito obrigado por tudo o que você fez, mas é inútil, pois senectus est morbus, e eu estou no fim. Pediu a sua serviçal D. Sebastiana, que estava ao meu lado, que trouxesse a encomenda. Era um objeto comprido e embrulhado, que me entregou dizendo: Leve para você e guarde-a como lembrança desse velho amigo e colega que o viu nascer e a quem assiste morrer.
Perdoe-me o haver me estendido demais no relato desse episódio, mas, se o fiz, é porque ele toca profundamente a minha sensibilidade.
O presente com que o Dr. Glória me obsequiou naquele instante, foi uma bengala com castão de ouro, estando nele gravado suas iniciais. Segundo informação que tivemos, essa bengala lhe foi oferecida por um grupo de amigos numa festa em sua homenagem.
Pois bem, senhores! Essa bengala eu a guardo como uma preciosidade, mas já recomendei aos meus descendentes e reitero essa recomendação neste momento, publicamente: Se algum dia for criado pelos poderes municipais, um museu nesta cidade, essa bengala deverá pertencer ao seu acervo. Os objetos também podem ter a sua história e essa bengala pertence à história de São João Nepomuceno.
E assim foi feito, pois Dona Nadina Furtado Ayupe, sua esposa, por ocasião da criação do Museu Municipal fez doação da preciosa relíquia ao Exmo Sr. Prefeito Célio Filgueiras Ferraz, cumprindo-se assim o desejo do grande médico Nagib Camilo Ayupe.

Curiosidade: O Dr. Nagib C. Ayupe escrevendo “A Saúde da Comunidade-História da Medicina em nosso Município -Vultos médicos que por aqui passaram”, nos relata: Antes de Dr. Gloria as condições sanitárias eram precaríssimas sendo os dejetos humanos colocados em barris e transportados em carroções durante a madrugada e despejados no córrego fora da cidade. Com isto era comum doenças infecto-contagiosas como: cobasiloses, tifóses, paratióses (Salmonelas), disenterias bacilar e amebiana entre outras, como também a tuberculose.