Por José Carlos Barroso
Foi o carnaval o motivo principal, que levou o são-joanense a construir o Clube e a história nos é contada que muito antes disto nosso povo já apreciava os préstitos de carnaval.
Nas posturas da Câmara Municipal, elaboradas em 1854 já se proibia o “jogo do entrudo” que foi o precursor do carnaval brasileiro, que tem como certidão de batismo uma portaria do chefe de policia do Rio de Janeiro publicada no ano anterior, como o mesmo teor da lei são-joanense.
O povo de São João Nepomuceno passou a seguir a tendência, que transformou o carnaval em uma festa nacional, disseminando a construção de clubes carnavalescos.
Em 1907 alguns foliões da cidade fundaram o Clube Carnavalesco Filhos do Inferno e os festejos de momo se tornaram uma coqueluche na pequena cidade de São João Nepomuceno, como nos conta o jornal Voz de São João, folha semanal de 1908. Naquela época o ponto alto do carnaval era o préstito que acontecia na terça feira gorda, que além dos carros alegóricos trazia também os “carros de critica”, quando os foliões pequenos esquetes jocosos, cantando versos alusivos aos problemas da cidade e tudo que servia no dia a dia como mexerico para o povo.
Porém foi uma divergência entre os diretores do Clube Carnavalesco Filhos do Inferno, que contribuiu para a ferrenha rivalidade aqui iniciada no ano de 1913.
Em função desta rivalidade os adeptos do “Filhos do Inferno” se dividiram em duas facções inviabilizando a convivência entre os seus adeptos e redundou na dissolução do clube e o nascimento de duas outras associações: o Clube Carnavalesco Democráticos de São João e o Clube Carnavalesco Trombeteiros de Momo.
A historia nos revela que os senhores Dr. José Bibiano de Loures, Serafim Loures Filgueiras, Abrahim Camilo Ayupe, Mauricio Velasco, Orozimbo Rocha e Gilson Vieira de Mendonça, foram os fundadores dos Democráticos em 21 de abril de 1913.
A diretoria do Clube Carnavalesco Democráticos reunida e de forma “democrática” passou a adotar o branco e o preto em seu estandarte encimando este um galo, figura tradicional a partir de então nos carnavais do “Clube do Galo”
Nos anos que se seguiram cresceu a rivalidade e que já no ano de 1914 ocorria o primeiro carnaval com os novos clubes e também as “ferinas críticas”, que agora não mais eram dirigidas aos problemas cotidianos da cidade e aos acontecimentos que geravam os famosos mexericos, passaram a ser dirigidas ao clube oponente e que gerava uma sucessão de replicas e treplicas.
No ano seguinte a rivalidade era tão grande que o delegado de policia proibiu às vésperas do carnaval “criticas ofensivas a qualquer clubs” (Voz do Povo, nº 326 de 14 de fevereiro de 1915) e determinou também itinerários diferentes para os préstitos das duas associações, de maneira a evitar o embate entre os trombeteiros e democráticos.
Daí para frente o que se viu foi uma disputa ferrenha para ver qual clube fazia o melhor carnaval pela avaliação que o povo fazia dos préstitos não se chegando a um consenso uma vez esse publico já se dividira pela paixão clubística, provocando polemicas informais em cada canto e no próprio semanário, logo após os acontecimentos de momo.
Dois fatos ocorridos em 1917 foram muito importantes para a consolidação do clubismo e da rivalidade em São João, primeiro a promoção de festas concomitantes nos dois clubes o que estendia o tempo de carnaval para o mês de janeiro, com os concorridíssimos pré- carnavalescos e o outro a construção da sede social do Clube Democráticos, inaugurada pelo Agente Executivo Dr. Péricles Vieira de Mendonça.
Nem mesmo a primeira guerra mundial que provocara um esvaziamento no carnaval foi suficiente para o declínio da rivalidade clubística o que valeu no ano de 1918 a fundação de dois outros clubes desta vez de futebol, mantendo assim a rivalidade na mesma proporção dos dois clubes sociais.
Mas o pós-guerra contribuiu para com as dificuldades econômicas e com isso ocorreu a inviabilidade da ocorrência dos préstitos que eram dispendiosos para os clubes, agravando a crise já instalada nos trombeteiros diante de um rival extremamente consolidado e que contava com a elite cafeeira e dos proprietários da Cia de Fiação e Tecidos Sarmento.
O esvaziamento da rivalidade perdura até o ano de 1923, quando o Clube Trombeteiros entra em nova fase e adota o nome de Novo Clube Trombeteiros de Momo, quando então os dois clubes localizados cada um em extremidades da praça central na época um grande largo e conhecido como 13 de maio em homenagem a abolição da escravatura no Brasil, promoviam festas concomitantemente durante todo ano, como que se preparando para o embate final ou seja no carnaval.
Essa aglutinação da rivalidade se estende até o ano de 1926, quando a rivalidade chega aos extremos na cidade se estendendo para o campo político o que culmina numa grande disputa, na verdade literalmente uma batalha, quando vidas são ceifadas e os clubes praticamente abandonam o carnaval de rua e restringem em realiza-los somente dentro de suas sedes, fato que perduraria até o ano de 1933.
Já o ano de 1934 é marcado pela volta dos préstitos dos dois clubes e o aparecimento de novas agremiações e nestas houve a disseminação da rivalidade, como foi o caso do Rancho dos Fenianos, composto pela população negra, cujo hino fazia alusão aos clubes Trombeteiros e Democráticos e o Rancho Colar de Pérolas, composto da população mestiça, ou entre o Bloco dos Alinhados e o Bloco dos Turunas.
No ano de 1935 acontece a primeira “batalha de confete” que desde então passa a abrir os festejos de momo e conseqüentemente os debates clubisticos. Era a magnífica “Sesquipedal Batalha de Confetes da Rua do Sarmento”.
A batalha acontecia na principal rua a Coronel José Dutra a popular rua do Sarmento em razão de lá existir a Casa Sarmento. Cada um dos clubes partia de sua sede em direção àquela rua arrebanhado no momento da sua passagem adeptos para a batalha. Quando lá chegavam eram atingidos por uma chuva de confetes e serpentinas, quando uma verdadeira multidão os esperava na tentativa de se tomar o estandarte um do outro para depois rasga-lo.
Mas com a segunda grande guerra mundial os clubes retornam ao interior de suas sedes e promovem uma espécie de trégua ao firmarem acordo no sentido de organizarem seus pré carnavalescos em dias alternados criando assim as famosas sabatinas e domingueiras.
No fim dos anos 40 aparecem as escolas de samba e o carnaval dos dois clubes se sofistica e passam a ser realizados os bailes infantis, coração das rainhas, concursos de fantasias além do tradicional préstito.
A partir de 1953 acontece ainda s chamadas visitas dos clubes, quando uma turma de um clube visitava o outro no ultimo dia de carnaval a terça feira, eram as “embaixadas” portando o estandarte do clube, que era recebido pelos foliões do clube rival assinalando assim a paz temporária, que se estendia até o ano próximo quando se começaria tudo novamente.
Esta aparente trégua entre clubes acabaria por dissipar a rivalidade, que mais tarde foi quase que completamente sepultada com o grande problema financeiro que envolveria o Clube Democráticos, que se viu impedido de dar prosseguimento aos seus famosos bailes carnavalescos.
Um outro fato é que lá pelos anos 70 com os clubes fechados no carnaval nascia o grande carnaval de rua na mesma praça em que começara, afinal por que pagar ingresso em um clube se a musica se fazia contagiante em plena rua ?
Mas em 2000 o Novo Clube Trombeteiros retorna com seus bailes carnavalescos nos dois primeiros dias de carnaval preenchendo uma lacuna de muitos anos o que motivou o seu oponente o Clube carnavalesco Democráticos a abrir também as suas portas no carnaval de 2004 mesmo que de forma tímida, sem uma banda para animar os foliões já arredios aos tumultos do carnaval popular no meio da rua.
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